Capítulo 9

9
Resposta de Jó
Caps. 9—10
Quem se atreve a discutir com Deus?
1Então em resposta Jó disse:
2“Eu sei muito bem que as coisas são assim.
Mas como é que uma pessoa pode provar a Deus
que ela está com a razão?#Jó 4.17
3Quem se atreve a discutir com Deus?
Ele pode fazer mil perguntas
a que ninguém é capaz de responder.
4A sua sabedoria é profunda,
e o seu poder é grande;
quem pode desafiá-lo e vencer?
5Sem aviso ele muda de lugar os montes
e na sua ira os destrói.
6Deus manda terremotos, e o chão treme;
ele abala as colunas que sustentam a terra.
7Deus dá ordem, e o sol não nasce;
ele apaga a luz das estrelas.
8Deus sozinho estendeu o céu;
ele pisou sobre as costas do Mar#9.8 Referência a uma lenda dos povos antigos, na qual um monstro, o Mar, foi vencido pelos deuses. O escritor bíblico usa essa lenda para descrever a ação de Deus na criação, quando pôs ordem no mundo (ver Jó 7.12; 26.12; 38.8; Sl 74.13)..
9Deus criou as estrelas em grupos:
a Ursa Maior, as Três-Marias e as Sete-Cabrinhas,
e fez também as estrelas do Sul.#Jó 38.31; Am 5.8
10Deus faz coisas grandes e maravilhosas,
e os seus milagres não têm fim.
11Deus passa perto de mim, e eu não vejo;
ele vai andando, e eu não percebo.
12Se Deus quer ficar com alguma coisa,
quem pode impedi-lo?
Quem se atreve a perguntar: ‘O que estás fazendo?’
13Deus não volta atrás na sua ira;
a seus pés caem derrotados os aliados do monstro Raabe#9.13 Aqui se usa a imagem de outro monstro, Raabe, que representava as forças da desordem e do mal (ver Jó 9.8, nota; 26.12; Sl 89.10)..
Sou inocente e sincero
14“Quem sou eu, então, para responder a Deus?
Onde vou achar palavras para discutir com ele?
15Ainda que eu tivesse razão, eu não responderia.
Ele é o meu juiz; só posso pedir misericórdia.
16Ainda que eu o chamasse ao tribunal, e ele se apresentasse,
não acredito que ouviria o meu caso.
17Deus me esmaga com uma tempestade
e sem motivo aumenta as minhas feridas.
18Ele não me deixa nem respirar
e enche de amargura a minha vida.
19Farei uso da força? Ele é o forte.
Chamarei Deus ao tribunal? E quem o obrigaria a comparecer?
20Sou inocente e sincero,
mas as minhas palavras me condenariam
e me declarariam culpado.
21Sou inocente, mas não me importo com isso;
estou cansado de viver.
22Para mim, é tudo a mesma coisa;
por isso, digo que Deus destrói tanto os bons como os maus.
23Se, de repente, uma desgraça mata pessoas inocentes,
Deus ri.
24Deus entregou o mundo nas mãos dos maus
e cobriu os olhos dos juízes com uma venda.
E, se não foi Deus quem fez isso, então quem foi?
Deus não acredita que eu seja inocente
25“Os meus dias correm mais depressa do que um atleta;
eles fogem sem ter visto a felicidade.
26A minha vida passa como um barco ligeiro,
como uma águia quando se lança sobre um coelho.
27Posso tentar esquecer as minhas queixas,
posso deixar o meu ar triste e voltar a ser alegre,
28mas logo os meus sofrimentos me deixam apavorado,
pois sei que Deus não acredita que eu seja inocente.
29E, se ele acha que sou culpado,
não adianta nada lutar.
30O sabão não pode lavar os meus pecados;
o sabão mais forte não pode limpar o mal que cometi.
31Deus me joga na lama,
e até a minha roupa tem nojo de mim.
32Deus não é um ser humano, como eu,
e por isso não posso responder-lhe,
nem podemos resolver a nossa questão no tribunal.
33Para nós dois não há um juiz
que possa julgar a mim e a Deus.
34Ó Deus, para de me castigar!
Não me enchas de medo com os teus terrores!
35Então eu falarei e não terei medo,
pois a minha consciência não me acusa.